Energias Renováveis Brasil – EDIÇÃO 2/4

Autoria: Eduarda Vasques; Laura Casari; Livia Maria

Coordenação: Lillyane Vieira

Revisão: Luciana Moraes

Julho de 2021 Brasil

Introdução

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É de conhecimento geral que estamos em crise ambiental. Por mais que seja difícil visualizar grandes mudanças e atitudes sendo tomadas pela maioria das pessoas ou pelas grandes empresas, nós temos alguma noção de que algo está acontecendo.

Pensar em uma mudança sustentável numa sociedade capitalista ao extremo, onde a felicidade está associada ao ato de consumir em excesso (necessário ou não), parece improvável de acontecer. Como indivíduos, no nosso dia a dia, precisamos sair da zona de conforto e enxergar que parte da solução está em nossa mudança de hábitos, adquirindo conhecimentos e tendo criatividade para soluções e um novo estilo de vida. Mas só a nossa mudança de hábito não será suficiente se não estiver associada à mudança do sistema que estamos inseridos.

A implementação das cidades sustentáveis é uma vertente da mudança sustentável que chama para o cerne da questão os agentes que causam grandes impactos na nossa vida.

Cidades Sustentáveis

“Cidades e Comunidades Sustentáveis” é o 11º dos 17 objetivos estratégicos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU que visa, até 2030, tornar as cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis através da implementação, por parte dos governos, de organizações da sociedade civil e da população local, de políticas públicas interdisciplinares nos âmbitos social, econômico, ambiental político e cultural, possibilitando a melhoria da qualidade de vida e a redução das desigualdades.

Objetivo das Cidades Sustentáveis

Por conta da excessiva exploração dos recursos naturais, uso de fontes de energias não renováveis e pelo aumento da população em disparada de um lado e, do outro, na mesma linha de crescimento, a fome e a pobreza, precisamos reinventar a forma estrutural dos nossos centros urbanos, a fim de que as próximas gerações possam ter um futuro melhor garantido.

Dentro do nicho de soluções encontra-se as cidades sustentáveis, cujo objetivo é evitar o esgotamento de recursos do meio, garantindo a presença do mesmo nas gerações futuras.

Trazer soluções a pequeno, médio e longo prazo, entre os mais diversos setores da sustentabilidade e melhorias ambientais é o lema das cidades sustentáveis. Quando falamos nas características principais, se trata de trazer para a sociedade uma nova forma de viver, com mais qualidade de vida, criando uma consciência mais respeitosa e senso de coletividade.

Uma cidade sustentável requer um planejamento urbano integrado e deve ter como micro-objetivos, segundo a ONU:

  • Habitação inclusiva e acessível;
  • Acesso à serviço de saneamento básico;
  • Sistema integrado de transporte e malha viária a preço acessível, contribuindo para a melhoria da mobilidade urbana e diminuição de emissão de poluentes;
  • Redução do número de mortes e de pessoas afetadas por catástrofes ambientais;
  • Acesso de todos à espaços públicos inclusivos e verdes;
  • Redução do impacto ambiental negativo;
  • Fortalecimento da economia local e integração entre área urbana e rural de uma mesma região.
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Cidades e Comunidades Sustentáveis – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nº 11 da ONU.

Características Principais das Cidades Sustentáveis

É importante destacar que para implementar certas estratégias a serem mostradas é necessário que, primeiramente, a população tenha acesso e condições de realiza-las, afinal estamos num país em que metade da população ainda não é contemplada com saneamento básico.

Eficiente coleta e reciclagem de todos os resíduos gerados

Pra evitar poluição das águas, solo e atmosfera, ter uma boa coleta é imprescindível. Podemos aplicar isso tendo pontos de coleta espalhados pelas ruas, escolas, empresas, instituições em geral; trazer uma boa conscientização desde a primeira infância nas escolas.

Outras estratégias podem ser: cobrar as sacolas plásticas com um valor alto, com o intuito de fazer com que o cliente não compre; e ter um modelo de descarte correto para as residências e empresas e, caso não seja cumprido, o lixo não será recolhido.

Essas duas últimas estratégias são usadas em Zurique (Suíça), onde a mesma é uma das cidades mais sustentáveis do mundo. Lá a questão de reciclagem é um ótimo modelo a ser seguido.

Instalar biodigestores residenciais para tratamento de esgoto

O biodigestor é um sistema que realiza a decomposição anaeróbica (sem oxigênio) de resíduos orgânicos, como fezes de animais de estimação e restos de alimentos, e gera como produto biogás e biofertilizante. (Ecycle)

Possuem um sistema de tanque séptico e filtro biológico. O tratamento ocorre através da biodegradação dos resíduos pela ação de bactérias. Essas bactérias se alimentam dos dejetos, reduzindo, dessa forma, a carga orgânica presente no esgoto de forma significativa. Ele ajuda a tratar os efluentes da sua residência, que são poluídos principalmente por excretas humanas.

Assim, a água de esgoto produzida pelos moradores da casa é tratada e devolvida sem dejetos. Biodigestores residenciais têm capacidade de reduzir, em média, 82% da DQO (quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica biodegradável).

Boas estratégias e bom gerenciamento de recursos hídricos

Entender a importância da água para a manutenção da vida na Terra é o primeiro passo para que possamos ter uma consciência do seu uso.

Podemos usar estratégias como captação e reutilização de águas pluviais (águas da chuva) e águas cinza, proveniente de descargas, lavagem de louça e roupas, para funções que não necessitam de água potável, como irrigar jardins, lavar pisos, carros etc.

Utilizar equipamentos que possuem um baixo consumo de água

Produtos que tenham um controle de vazão e pressão, como chuveiros, torneiras com desligamento automático e/ou arejadores, descargas com sistema duplo de acionamento, etc. São ótimos equipamentos que podem ser utilizados tanto em empresas como em residências, ou seja, com pequenos movimentos de mudanças podemos criar uma grande mudança e produzir um bom controle da água usada.

Seguindo o exemplo da cidade de Singapura, que já ganhou prêmios internacionais sobre gerenciamento de recursos hídricos, podemos incluir nas cidades sustentáveis todo o ciclo da água processado: desde a coleta de água da chuva para a purificação e abastecimento até o tratamento da água utilizada.

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Sistema de reuso de águas cinzas e águas pluviais. Fonte: acquanova

Mobilidade urbana

Ter uma boa estrutura de transporte coletivo público é um dos grandes passos contra a poluição gerada por automóveis. Criar um bom sistema de metrôs, trens, ônibus e, dependendo do lugar, um sistema de transporte por barcos é um grande diferencial de cidades sustentáveis, como podemos ver na cidade de Estocolmo.

Em Viena criou-se uma linha de ônibus elétrico que não utiliza nenhum combustível derivado do petróleo; em Londres, criou-se uma estratégia para os metrôs que produz parte da energia que consome a partir de seus freios – a energia produzida pelos freios dos trens é recolhida, reciclada e devolvida para a rede de alimentação de eletricidade das estações de metrô.

Trazer a consciência sobre outros meios de transporte como bicicletas, patins, patinetes, skates e criar ciclovias para o transporte seguro, também tem um grande e importante diferencial na luta para diminuição da poluição e no combate ao caos dos trânsitos das cidades, trazendo uma melhor qualidade de vida.

Energias Renováveis

Uma das maiores características para trazer mudanças é o uso de energias renováveis que, como vimos no informe anterior, o Brasil possui um destaque.

Quando o assunto é geração de energia neutra em CO2, as cidades brasileiras apresentam pontuações altas em comparações mundiais, pois o Brasil sempre se concentrou na energia hidrelétrica.

Podemos ver também a presença de energia renovável na cidade de Hamburgo, onde abriga mais de 300 empresas que produzem energia solar, eólica, hidroeletricidade, geotermal e proveniente de biomassa.

E a cidade de Munique que se tornou um referencial no assunto de energia limpa e planeja ser totalmente abastecida por energia renovável até 2025.

Na foto ao lado, exemplo de como as energias renováveis, nesse caso os painéis fotovoltaicos, podem ser usadas em toda a residência:

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Construção sustentável

Em vista da construção ser um dos maiores, senão o maior usuário de recursos naturais, implementar uma forma de construir casas e edifícios harmonizando-os com o meio ambiente é sem dúvida algo que traz muita diferença e está dentro dos conceitos das cidades sustentáveis. Durante toda sua produção e pós- construção, o objetivo é amenizar os impactos à natureza, reduzindo o máximo possível os resíduos e utilizando com eficiência os materiais e bens naturais, como água e energia.

Ter a eficiência energética e o uso de materiais certos nos planejamentos significa garantir que a energia para manter o local venha de fontes limpas e com baixo impacto sobre o meio ambiente.

Como exemplo de equipamentos e materiais usados, temos: painéis fotovoltaicos, aquecedores solares, telhados verdes, alta iluminação e ventilação natural, sistemas de captação de águas pluviais, uso de materiais ecológicos e sustentáveis, substituição da alvenaria comum pela estrutura de Steel Frame (estrutura de aço), etc.

Podemos ter a cidade de Praga como um exemplo, que construiu um conjunto de edifícios levando em conta questões de conservação e sustentabilidade. A cidade ganhou a certificação LEED que é a certificação de sustentabilidade mais usada no mundo.

Algumas dessas mudanças podem trazer um custo alto no começo, mas que será revertido ao longo do tempo e trará muitos benefícios para o meio ambiente em geral.

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Pequenas casas construídas através de materiais sustentáveis
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Parede Verde em um Edifício Sustentável

Consumo Consciente

O consumo consciente é uma interpretação mais profunda sobre tudo o que consumimos e o surgimento do questionamento da origem de tudo o que temos. Será que realmente precisamos de mais? Por que a felicidade vem se atrelando ao consumo e à aquisição de produtos?

O aumento do consumo de bens se relaciona com um aumento diretamente proporcional da utilização de água, energia elétrica, com a produção de lixo e o aumento da poluição gerada pelas grandes indústrias. Pensando nisso vemos a quantidade de coisas que compramos, mas que na realidade nem precisamos.

A grande questão é que a maior parte desses produtos vem de grandes centros coorporativos com uma exploração excessiva dos recursos naturais, interferindo diretamente no meio ambiente e seu equilíbrio, como na produção diária de toneladas de lixo que, em sua maioria, terão um descarte incorreto desembocando em oceanos, rios e lagos.

De acordo World Wildlife Fund (Fundo Mundial da Natureza), estamos consumindo mais do que a capacidade do planeta em se regenerar, alterando o equilíbrio da Terra. Relatório do World Watch Institute (WWI), coloca que, hoje extraímos anualmente 60 bilhões de toneladas de recursos naturais, ou seja, cerca de 50% a mais do que extraíamos 30 anos atrás.

Para termos noção da situação atual, o site Wordometers mostra em tempo real, cada instante, a população mundial e os indicadores relacionados à sociedade e mídia, meio ambiente, alimentação, água, energia e saúde. Segue dados do dia 21/06/2021 do nicho Meio Ambiente:

A mudança desse cenário está na percepção individual de que não é alimentando o atual sistema que alcançaremos a felicidade. Trocar grandes indústrias por empresas conscientes, pequenos negócios que não utilizam mão de obra infantil e escrava, e que a produção do produto não gerará grandes quantidades de lixo, é a nossa alternativa.

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Conclusão

No Brasil aproximadamente 750 municípios aderiram ao Programa Cidades Sustentáveis que visa estimular a implementação de uma agenda sustentável no âmbito local, cumprindo os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Foi estabelecido um índice, baseado em 88 indicadores públicos e oficiais, aptos a estimular e monitorar o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável.

Pensar e agir de forma consciente está longe de ser apenas mais uma moda passageira. É, na verdade, pensar na Terra, no nosso futuro, na nossa qualidade de vida e na das próximas gerações. Fazer trocas inteligentes, como falado nas cidades sustentáveis, usando energias renováveis, pensando de forma minimalista e consciente, além de contribuir com a vida de inúmeros trabalhadores, estará contribuindo, principalmente, com o futuro do nosso planeta.

Cidades Sustentáveis e Consumo Consciente são um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e, para serem alcançados, é necessária a ação de todos os agentes envolvidos na sociedade: governo, organizações, empresários, produtores e consumidores.

O sistema capitalista, no qual estamos inseridos, nos condiciona a consumir de forma excessiva, a comprar produtos do qual não necessitamos e a optar por bens não duráveis que precisam ser constantemente substituídos. O uso de energias renováveis como forma de não esgotar nossos recursos naturais é uma solução que precisa vir acompanhada de toda uma mudança sistemática.

Travamos diariamente uma luta com o meio ambiente, que estamos fadados a perder, se não repensarmos todo o nosso sistema.

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Referências Bibliográficas

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